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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

EM PROCISSÃO, EM ROMARIA



Acolhidos pelo fraterno casal Deise e Quico, fizemos uma merecida parada para descansarmos o corpo e depois recarregarmos as energias e a alma na retomada do caminho, o vereador de Barra do Graças Quico e a professora e arquiteta de sonhos e casas Deise cederam um espaço na casa e no coração para Renato, Claudineia, Cristiano e Altair, na verdade amigos de nosso amigo e companheiro Altair, selamos mais uma amizade sincera com a certeza de que podemos encontrar sempre no caminho pessoas de sonhos e lutas, são as surpresas da caminhada.

ALTA CASCALHEIRA, GENTE DO SERTÃO



Depois de uma bela e fraterna viagem, o coração se expande com a chegada a Cascalheira
Nossa primeira visão o santuário de tantas vidas doadas tombadas, proclamadas.
Toni irmão de caminhada é quem nos acolhe de braços e coração abertos com alma iluminada, Marcondes, sacerdote conterrâneo de terras e esperança nos acolhe com a alegria da caminhada.
Assim foi nosso primeiro dia sendo recebidos pelos lares e laços estabelecidos na caminhada
Ivanez, Alberto, João Pedro, Bruna, Albert, Noemia, Sergio, amigos da outra romaria abrem as vossas casas para que no aconchego de vossos lares pudéssemos repousar nosso corpo cansado da longa viagem e a fim de cada dia de romaria, pudéssemos recostar nossas cabeças em travesseiros cobertos de sonhos e esperanças.


NA VIDA DOADA. DADA, ASSUMIMOS NOSSAS LUTAS



Já no primeiro dia, fomos acolhidos pela programação da Romaria que prosseguia, participamos ao lado de tantos caminheiros que se achegavam do primeiro dia do tríduo na comunidade São João Batista, profeta da expectativa do Reino, que nos deu a oportunidade de com a comunidade celebrar o primeiro momento de preparação para Romaria. Nesse dia de tantas esperanças rumo à celebração dos mártires, fizemos memória de tantos companheiros e companheiras de caminhada que doaram suas vidas em prol do Reino, da Vida dada pela vida e descobrimos logo de inicio, que partilhar dessa caminhada nos faz comprometidos e Testemunhas do Reino.

CELEBRANDO A VIDA E NÃO A MORTE, A VIDA DOADA


Já no segundo dia de tríduo ficamos mais próximo da comunidade local os caminheiros e caminhantes se misturavam numa grande ciranda da vida, a comunidade Santo Antônio nos acolheu ternamente e na memoria do padre João Bosco celebramos a Ressureição das lutas e da resistência dos pobres em clamor pela vida.

CRUZ DO PADRE JOÃO, MEMÓRIA,MARTÍRIO, COMPROMISSO



Já bem mais pertinho da Celebração da Romaria, nos dirigimos a capela da cruz do padre João Bosco, local onde agonizou durante seu martírio, fomos recebidos pelas belas araras que no fim de tarde faziam celebração em coqueiros próximos da antiga casa da equipe pastoral e da delegacia destruída pela comunidade no sétimo dia de João Bosco em sinal de redenção. Pedro nos recebia silenciosamente próximo ao portão de acesso com uma comprometida conversa com Cirineu Khun, testemunha do Reino, poeta da Verbo Filmes. Após a memória reconstruída, Pedro nos falou de tudo e do testamento que deixaria, por talvez ser sua ultima romaria.

Pediu que “nunca abandonássemos os pobres, que o sangue dos mártires seja colírio para que nossos olhos sejam capazes de enxergar e lutar pelo Reino”. Lembrou da conversão da estrutura da Igreja e da Sociedade, “é preciso uma Igreja que assuma a defesa da vida e a opção pelos pobres, uma sociedade onde o outro mundo possível efetivamente aconteça”.

CAMINHAMOS PELA LUZ DE DEUS, NA MEMÓRIA COMPROMETIDA



A luz do Ressuscitado nos provocou a mirarmos as esperanças nas memórias tombadas, fixadas em nossa caminhada dia-dia pelo Reino.


A caminhada iluminada pela força das luzes tanto das velas quanto das esperanças trazidas, multiplicadas, nesse sentido se fez, se multiplicou e como em muitos lugares da caminhada não se ouvia o caminhão de som, devido ao grande volume de pessoas, muitos animadores se despontaram, fazendo unidade com todas as pessoas, puxando rezas, cantos, melodias, gritos de ordem, convocando os mártires a caminharem conosco.



Assim chegamos ao santuário das vidas tombadas e fomos recebidos pelo calor do animador de nossa forte caminhada Zé Vicente, Passos, Raquel e tantos companheiros e companehiras que se dividiam no palco nos conclamando a esperança e a luta pela vida, a bandeira da paz passou frondosa sobre nossas mãos como compromisso da caminhada e da Libertação assumida, proclamada, vivenciada, profetizada.



PÃO DA MEMÓRIA E DO COMPROMISSO




No domingo, a força do pão da vida multiplicado na eucaristia, nos fortalecia e resumiria a Palavra de domingo nas Palavras de Pedro:

<< Talvez seja esta para mim a ultima romaria pé no chão, a outra eu estaria contando estrelas no seio do Pai, e mesmo sendo a ultima ou a penúltima eu quero dar uns conselhos, velho caduco tem direito a dar conselhos e a memória dos mártires no sangue dos mártires, mais do que um conselho compromisso, depois juntamente assumidos ou reassumidos.
São Paulo depois de tantos dons nos anuncia tantas brigas teológicas, tantas intrigas por cultura, dá um conselho único é o que eu peço de vocês: que não esqueçam dos pobres, o que eu peço de vocês é que não esqueçam a opção pelo pobres, essencial ao evangelho e a Igreja de Jesus. A opção pelos pobres. A opção pelos pobres se concretiza nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem terra, nos prisioneiros, nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viverem com dignidade e com liberdade. Eu peço também para vocês que não esqueçam do sangue dos mártires, tem gente da própria Igreja que acha que chega de falar de mártires, o dia que chegasse de falar de mártires deveríamos apagar o novo testamento e fechar o rosto de Jesus.
Assumam a Romaria dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordamos bem, assumindo as causas dos mártires, pelas causas pelas quais morreram, nós vamos dedicar vamos doar e se for preciso morrer a nossa própria vida também. Tenho ainda uma palavra: há muita amargura, há muita decepção, há muito cansaço, há muita radicação: isso é heresia, isso é pecado. Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa, o outro mundo possível somos nós, a outra Igreja possível somos nós, devemos fazer questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo, como se cada um de nós fosse uma célula mãe, espalhando vida, provocando vida.
A Igreja da Libertação está viva, ressuscitada, porque é a Igreja de Jesus. A Teologia da Libertação, a Espiritualidade da Libertação, a Liturgia da Libertação, a vida eclesial da libertação não é nada de fora, algo bem direto é do próprio mistério pascal que é o mistério da vida de Jesus que é o mistério de nossas vidas. Para todos vocês, todas vocês, um abraço imenso com muito carinho, com muita ternura e com muita esperança, de se manter viva a esperança, que seja uma razão. Pode nos tirar tudo menos a fiel esperança. Um grande abraço para vocês, para suas comunidades, que a caminhada continue. Amém, Axé, Awere, Sawede, Aleluia.>>.

Pedro Casaldáliga


SÃO FELIX 40 ANOS DE CAMINHADA E OPÇÃO RADICAL PELOS POBRES


Nossa caminhada se efetivaria na casa simples de Pedro, fomos recebidos pela lua do Araguaia, que como diz o povo de lá, só lá a encontramos. Lavados de esperança pelas águas do Araguaia, fortalecidos pelos companheiros que como nós continuaram sua romaria em São Felix. Partilhamos vidas e sonhos. Álvaro meu catalão irmão nos presenteou como o sabor das tortilhas, como ele disse: preparada pela equipe, poderia nascer mais uma pastoral aí, a das Tortilhas que tem a missão da fraternidade e da irmandade que o sabor permaneça como permanece em nós a amizade e a alegria de tão precioso encontro, que somente a caminhada é capaz de nos dar. Com Álvaro nossa aliança simbolizada em pote Karajá, cheio de ternura e paixão pelo Reino.

Acredito que sabor seja a melhor expressão de nossa estadia em São Felix, deixamos o sabor do Pinhão ao cidadão paranaense Casaldáliga, que reclamou frutos tão saborosos de uma arvore tão desrespeitada. Sabor do café tomado às manhãs após as orações na capela de Pedro, sabor da ternura daqueles que cuidam de Pedro, José Maria, Maria José, Paulinho, Ivo, tantos comprometidos com a causa que diariamente passam e partilham vossas vidas na simples casa desse bispo da caminhada.


O que fica é o desafio se assumir o compromisso, com as causas indígenas, na pessoa do amigo Beylari Karajá que nos recebeu mais uma vez em vossa casa e que afirma que a modernidade da luz elétrica trouxe uma esperança, no sentido de que eles se sentem mais incluídos e morrem menos, fica um grito forte de que a cultura destes nossos irmãos precisa ser defendida, protegida, morte não é somente morte física, mas morte da cultura e do jeito de ser índio.

Marãiwatsedea, terra Xavante, tomada pelo latifúndio e pela opressão da ganância da brutalidade do capitalismo, deve ser nosso primeiro compromisso assumido, desde o primeiro encontro com Pedro em Cascalheira até a passagem nossa pelas terras na região do posto da Mata, deve significar nosso empenho de levar a quem quer que seja a defesa dos territórios desses povos que querem apenas o direito de cuidar da mãe terra, antes que ela seja totalmente destruída como vimos pelos caminhos que passamos. Destruída pela força do latifúndio, que enxerga somente o lucro e não a vida. Paulo sacerdote da luta na prelazia que junto com Zezão ameaçados por defenderem o povo pobre da Bordolândia, que precisa de dignidade para sobreviver e vivem constantemente ameaçados pelo poder dos coronéis da região. É preciso dar um basta e apoiar nossos companheiros como nossa solidariedade comprometida.

Após tantos sentimentos e tantas emoções vivenciadas nesta comprometida viagem como nossos companheiros Altair, Cristiano e eu minha companheira Claudineia, retornarmos ao nosso sagrado lar, com a expectativa de que o Reino se efetive nosso compromisso diário da luta pela defesa total, integral da vida.