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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

UMA VISITA: MEMÓRIA E CAMINHO



Organizamo-nos, trabalhadores/as da Casa da Juventude de Goiânia, na manhã do dia 04 de novembro de 2010, para visitarmos Pedro Casaldáliga, bispo da Igreja, no Brasil. Ele fez uma cirurgia. Fomos eu, Edina, Graça, Alessandra, Marcelo e a Irmã Jesuíta. Brincávamos que estávamos em romaria... Chegamos e fomos acolhidos pelo padre Paulo, que dizia que algumas pessoas não pareciam ser representantes de Casa da Juventude. Fomos acolhidos por Pedro. Perguntou pelas eleições. Trocamos impressões. Falamos das opções imediatas e dos projetos dos nossos sonhos. Falamos dos equívocos que podemos viver, presos no sonho, sem considerar a realidade. Podemos, até, ignorar os 28 milhões de pessoas e teorizar sobre elas, porém a experiência da fome é outra coisa.
Meu coração encheu-se de alegria, como um consolo de Deus, quando ele começou a falar do projeto da CAJU, dizendo que era um sonho alto demais. Ainda mais, acrescentou ele, porque se trata de jovens e sobre eles/elas sempre pairam desconfianças. Não se pensava que iria muito longe, mas como cresceu... Contra tudo isto e por isto, temos que ser sempre fiéis e nunca perder o horizonte, o objetivo maior – o Reino. Todo o resto é passageiro, mas não podemos desviar-nos do Reino. Também disse da importância da comunidade, de participar, de motivar os jovens para participarem dela porque é na comunhão que se vive o seguimento.
Essa fala de Pedro me fez percorrer o caminho dos 25 anos. Visitei, como num passe de mágica, todas as desconfianças em relação à juventude e sua organização, e também, a Casa da Juventude. A profecia era verdade. E, ali mesmo, percebi que a fidelidade ao Reino, o cuidado com os pobres e os jovens foram o que nos fortaleceram no caminho. Quantas tribulações, quantas desconfianças foram vencidas! A fala dele que tudo passa era a mais pura verdade. Uma verdade vivida. Sentia que ele transmitia o quanto Deus nos ama e cuida de nós, em cada um dos momentos, em cada decisão.
Também pude testemunhar o caminho feito por Graça, Edina e Marcelo e perceber como o encantamento, a presença de Pedro em suas vidas contribuíram no caminho como testemunhas. Percebi, também, o quanto a visita ao Pastor nos fortalecia para o caminho com a juventude empobrecida, na fidelidade ao Reino. Graça entregou a música que fez de presente a ele. Cantou. Ele agradeceu e acompanhou tudo com respeito, carinho e um gesto de uma jovem. Fico imaginando o poeta, ouvindo a poesia da outra, com uma sensibilidade que é dada a tão poucas pessoas. Também confirmou que Deus, para revelar sua bondade, de tempos em tempos, envia pessoas que nos encantam porque revelam seu amor, sua bondade, sua plenitude e aí nós sabemos que podemos ser mais e devemos viver com mais intensidade estes dons que Deus nos revela.
Estava conosco a irmã Jesuíta que viveu em Confresa (MT) durante muitos anos e está chegando de uma experiência na África, Moçambique. Ela nos contava dos jovens, da pobreza e miséria na África, da cultura. Pedro perguntava sobre os costumes do povo e se a Igreja tinha capacidade de diálogo com o povo e sua cultura.
Esses encontros marcam nossa vida. O primeiro encontro com ele foi, creio que em 1984, na Assembleia do Regional, sem eu saber que ele era bispo. Sentada ao seu lado, me encantou a presença. Sabia que era um homem de Deus e sabia que era pobre. Eu, jovem, representando os/as jovens de minha diocese, sabia que tinha fé. Só depois, descobri que era um bispo e a cena nunca saiu dos meus olhos, nem o som de sua voz cantando, “da cepa brotou a rama, da rama, brotou a flor e da flor nasceu Maria...”. Depois, na CNBB, quando estava iniciando o trabalho na assessoria, me tocou apresentar o Marco Referencial da Pastoral da Juventude. Ao final, ele se aproximou e disse: Obrigada! Que banho de pedagogia! Na Romaria, em Ribeirão Cascalheira (MT), o modo como acolhia cada pessoa, como os índios eram íntimos dele, como as senhoras pobres falavam como com ele, era alguém da família, um Pastor. E hoje, me impressionou sua memória, sua lucidez, sua capacidade de acolher, de animarmos para o caminho do seguimento a Jesus e o Reino anunciado por Ele.
Externo toda minha gratidão a Deus, porque através destas pessoas Ele nos revela seu amor, seu cuidado e nos anima para continuar o nosso testemunho de vida, como seguidora do Ressuscitado. Sei que Deus cuida de quem ele ama. Sei que Seu amor é grande e isso não se traduz em palavras.



• Carmem Lucia Teixeira, 04 de novembro de 2010.
Coordenadora Geral da Casa da Juventude Pe. Burnier

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