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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O SEGUIMENTO DE JESUS CRISTO À PARTIR DA PASTORAL DA JUVENTUDE

Renato Eder Munhoz
O seguimento de Jesus Cristo à partir da Pastoral da Juventude, é um desafio imperativo que se apresenta frente a realidade eclesial de nosso tempo. Algumas perguntas são fundamentais nesse processo: • O que representa seguir Jesus? • Seguir Jesus à partir de onde? • A Igreja tem sido reflexo do seguimento de Cristo? • Qual é o imperativo no seguimento de Jesus Cristo? Boas perguntas e bons desafios. Antes de qualquer palavra sobre a ideia de seguimento é fundamental que tenhamos claro a matriz do seguimento? • Quem é Jesus para você? • Quem é Jesus na perspectiva da Pastoral da Juventude? • Quem é Jesus para o jovem hoje? O primeiro passo antes de seguir alguém, alguma proposta, uma ideia. É preciso saber quem se segue. Quando se trata de um seguimento personificado, temos a visão naquele que nos convocou ou que nos impeliu ao convite de segui-lo uma referência, um ponto de partida para expectativas anteriores que supostamente tínhamos formulado dentro de cada e cada uma de nós. É a expectativa messiânica: “Vimos o Messias” (Jo 1,41). Essa certeza provoca uma reviravolta naqueles que não viram, e os que supostamente viram comecem à partir daí a desenhar um caminho. Um novo caminho. De trás para frente é como a volta do caminho de Emaús: “não ardia o nosso coração?” Nossa caminhada metodológica reflete a oração do profeta Pedro Casaldáliga companheiro de caminhada da PJ: “Saber o que se é, falar do que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama, até as ultimas consequências” (Pedro). Resumindo esse é o seguimento de Jesus Cristo. “SABER O QUE SE É” “Mestre onde moras?”. Trata-se um processo pedagógico, um permanente processo de formação. No caso de Cristo três anos de caminhada foram preparando os seus discípulos a entenderem o seguimento. No caso especifico do Cristo, o seguimento como continuidade, não como mero continuísmo, mas como proposta de vida a ser vivida por todos aqueles e aquelas que passaram pelo caminho do Cristo. (...) Seguir o caminho é entrar no Caminho, entrar em Cristo e Cristo em nós, numa profunda “interioridade mútua”, formando como “única personalidade mística”. Já não sou que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). (Doc 85 no 53). O documento 85 remete claramente que o seguimento implica um conhecimento, a certeza dada não por mentes avulsas ou externas, mas de um desejo de entrar, como uma paixão mobilizadora e um sinal de pertença. A juventude como um todo é convidada a caminhar com ele (...) Um Jesus que caminha com o jovem, como caminhava com os discípulos de Emaús, escutando, dialogando e orientando (Puebla 176). (Doc 85 no 55). Só a mistagogia do caminho será capaz de dar a condição do discernimento. Ouvimos dizer por aí: “Encontrei Jesus”, muito raso eu diria, prematuro demais. É só a caminhada ao lado dele que nos dará aos poucos essa condição. Primeiro nos entregamos e saímos a caminhar pois sabemos que vamos encontrar algo, segundo afirmamos ou desistimos do caminho, nem todos que se colocaram a caminho foram fiéis até o fim. Com efeito, o seguimento de Jesus é um exercício que inclui procedimentos próprios, fecundando o coração do discípulo e discípula, gerando uma consciência ética própria para sustentar uma conduta que no mundo aponte o compromisso com a vida e caminho do Reino definitivo. (...) (Doc 85 no 59) O papel a ser desempenhado aqui à partir do espaço da PJ é de ser esse espaço de convivência com o projeto, retirando todo e qualquer imediatismo, ou certezas precoces, que possibilitem inclusive um compromisso desenraizado da mística da caminhada. “FALAR DO QUE SE CRÊ” Os sinais, os passos dados e as palavras proferidas no caminho, revelam não meramente a vontade de um grupo de loucos, ou de um cara que se apresenta como sinal de algo. Aqui uma perspectiva importante a clareza do Projeto. Jesus de Nazaré não fala em seu nome. É fonte e reflexo ao mesmo tempo de um projeto maior do que ele. O projeto do Reino, vivido na história, rememorado no caminho pelos filhos da escravidão. É tão revelador que os sinais de libertação do Cristo, atraem gente de todos os lados que tanto sonharam com a vinda do Messias e com o fim da escravidão. Recuperar o Jesus histórico é reproduzir sua vida nas mais variadas circunstâncias históricas. O mais histórico de Jesus é sua prática com o Espírito que possibilita hierarquizar todos os elementos históricos e tem o potencial mistagógico capaz de introduzir na totalidade do mistério de Cristo. (SOBRINO, p.44) Então nos caberá entender que o seguimento do Cristo, parte de um projeto, não parte dos sinais puramente. Estes revelam o projeto. Fugimos assim de uma leitura masoquista e fundamentalista da Palavra de Deus. Jesus é parte do Projeto do Reino, aponta para ele. Nesse sentido conhecer o projeto é fundamental. Na proposta do cara de Nazaré era justamente, que não era ele a referência máxima, mas o Pai, ele apenas fazia a vontade do Pai. Por isso da formação no caminho, para que aqueles e aquelas que se aproximavam dele se aproximassem antes de tudo do projeto. Essas três realidades: o Jesus de Nazaré, os pobres e o seguimento de Jesus estão íntima e profundamente relacionadas entre si: Jesus é enviado para anunciar a Boa Nova ao pobres e os pobres são seus prediletos. O Jesus histórico é critério de seguimento e o seguimento é o modo de recuperar o Jesus histórico e de prosseguir sua prática em favor de uma vida digna para todos. (SOBRINO, p. 47 ). Refazer o caminho e perseguir os passos históricos de Jesus nos colocará em condição da atualização da vivência prática de seus ensinamentos, relacionados diretamente e invariavelmente ao Projeto do Reino. Faz-nos dizer da atualidade e do projeto ainda hoje. E deve nos comprometer historicamente, socialmente e, sobretudo profeticamente com a alteração das realidades que contradizem a vida proclamada e defendida por Cristo. “CRER NO QUE SE PREGA” Muitos anúncios, convites e tentações. Assim se resume os desafios na vivência concreta do seguimento, seguir vem conjugado com outro verbo importante: Viver. Quando anunciamos o Reino é porque sabemos dele e sobretudo cremos nele. A Pastoral da Juventude através da caminhada feita, tem mostrado claramente possibilidades daquilo que estabelece como opção e projeto para os grupos de base e para seu projeto de ser Igreja. As consequências daquele que crê no que prega e vive o que prega, tem sido marcada por posições proféticas. Numa sociedade onde a governança e a política tem sido marcada por uma inatividade ou uma intenção mal direcionada. Caberia aos pregadores de plantão que tanto falam do Cristo, gritarem profeticamente inclusive com a vida. Mas não é o que estamos assistindo costumeiramente. O Reino de vida que Cristo veio trazer é incompatível com essas situações desumanas. Se pretendemos fechar os olhos diante dessas realidades, não somos defensores da vida do Reino e nos situamos no caminho da morte. “Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos. Aquele que não ama permanece na morte” (1Jo 3,14). (DAp358) Esse silêncio é rompido quando ainda nos dias de hoje encontramos vários profetas de testemunho que com sua vida tem demonstrado que o seguimento do Cristo, implica efetivamente a vivência de um modelo de vida, onde não se contemple a escravidão consumista, nem a ganância e individualismo que derrubam nossos projetos coletivos. A Pastoral da Juventude cumpre tarefa essencial em demonstrar na prática que ainda podemos sonhar com um modelo de sociedade diferente marcado pela caminhada coletiva e pela corajosa voz profética. O encontro com Cristo, presente entre aqueles se reúnem em seu nome (Mt 18,20) no amor, trará consequências e deixará marcas indeléveis na capacidade de relacionamento entre as pessoas, envolvendo sentimentos, a inteligência, a liberdade e compromisso como novo modo de agir na Igreja e na sociedade. (...) (Doc. 85 CNBB no 61) Não dá para dizer uma coisa e viver outra. Temos com nossa capacidade de intervenção e formação nos preparando cada vez mais para uma confluência do discurso com a prática. Muitos jovens formados nos espaços de formação da PJ, estarão assumindo a partir do ano que vem, cargos políticos, vereadores, prefeitos, secretarias, diretorias. Inclusive o discurso eleitoral se aproximou muitas vezes das palavras e gestos marcadamente pejoteiros. Tarefa primordial nestes espaços de viver com coragem o seguimento de Cristo. “VIVER O QUE SE PROCLAMA” “Comprometidos com o Deus libertador A favor da vida, contra a opressão De mãos dadas a caminho, em um grande mutirão, nos tornamos testemunhas da fraterna comunhão.” (Hino da PJ SC 30 anos) Quando falamos do que acreditamos ficamos marcados com o selo do compromisso, por tornar público nossa crença, nossos sonhos, nossas causas. Esse é o preço. Diria preço e tarefa. Pois embora tenhamos que assumir as consequências, isto é imperativo do seguimento. No seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos a bem aventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus: seu amor e obediência filial ao Pai, sua compaixão entranhável frente a dor humana, sua proximidade aos pobres e aos pequenos, sua fidelidade à missão encomendada, seu amor serviçal até a doação de sua vida (...). (DAp 139). Não tem como ser diferente, numa sociedade onde o projeto abafa a voz e iniciativa dos pequenos do Reino, qualquer voz que protagonize e empodere, será perseguida e questionada. Uma coisa é certa na história da humanidade: todas as vezes que os pequenos tomaram iniciativas de transformação, é quando o tecido social fora efetivamente alterado. A resistência dos pequenos faz parte do Projeto de Deus, que coloca o povo em marcha, caminha à frente rumo à conquista da terra prometida. Nesse sentido é preciso que a PJ cumpra uma tarefa “memorial”, isto é provocar a memória, revivendo e convocando para a caminhada nossos mártires da caminhada e nossa referências presentes em nossa caminhada. Trata segundo o companheiro Comblin de “peregrinar na esperança”: Na peregrinação o viajante não percorre o caminho para receber. No final do trajeto não recebe nada, mas é uma pessoa diferente. Torna-se pessoa nova. A caminhada faz com que se transforme. Caminhando o peregrino aprende a aproveitar tudo sem se apegar a nada, torna-se livre, aberto ao mundo e aos outros, menos apegado a si mesmo e mais entregue aos outros. (...) Na peregrinação não há nenhuma aquisição de propriedade. Mas a cada dia a pessoa se sente mais ela mesma, mais forte, mais atenta, mais receptiva. (COMBLIN P.66) Essa “tarefa memorial”, exigirá compromisso, muitas referências da caminhada estão por aí, as vezes muito perto. Quem sabe os peregrinos teimosos, provoquem nossos grupos para irem assumindo nos seus belos nomes (JACA, JUCA, JUCE), pessoas doaram a vida pela causa do Reino, ou que ainda estão por aí nos provocando (JUDH: Juventude Dom Helder Câmara, JUMID: Jovens unidos na memória de irmã Dorothy). Quando se vive o que se proclama, além de peregrino da esperança, torna-se tarefeiro do Reino. Não se coloca em condição de superioridade, mas sempre em posição de serviço, assim como aqueles e aquelas que com a própria vida se doaram em gratuidade. “ATÉ AS ULTIMAS CONSEQUÊNCIAS” Que o Deus vivo nos dê coragem Pra como Ele, amar até o fim Novo céu e nova terra nós queremos construir, outro mundo é possível se você disser que SIM! (Hino da PJ SC 30 anos) A doação da vida total, ou simplesmente o compromisso total, custe o que custar. É preciso não ter medo da radicalidade. O projeto do Reino conduz a radicalidade. Identificar-se com Jesus Cristo é também compartilhar seu destino: “Onde estiver, aí estará também o meu servo” (Jo 12,26). O cristão vive o mesmo destino do Senhor inclusive até a cruz: “Se alguém quer servir após mim, negue-se a si mesmo, carregue a sua cruz e me siga” (Mc 8,34). Estimula-nos o testemunho de tantos missionário e mártires de ontem e de hoje em nosso povos que tem chegado a compartilhar a cruz de Cristo até a entrega da própria vida. (DAp140) Não se trata de qualquer radicalidade, é a capacidade de ter consciência das possíveis consequência e mesmo assim não retroceder, nem negar o projeto. A PJ dever ser o espaço de formar para a radicalidade, de provocar nossos grupos a se aproximarem da radicalidade, não como algo negativo ou que destrói. Mas mais uma vez como tarefa imperiosa. Um novo modelo de Igreja e sociedade, passa pelo compromisso categórico e afirmativo daqueles e daquelas que descobriram o Cristo e no seu seguimento é capaz de imitar a atitude do Mestre: entregar-se inteiramente ao projeto do Reino, mesmo que isso custe a própria vida, ou a rejeição daqueles que não compreenderam o Projeto ou daqueles que fogem dele. Assim foi o Cristo e assim será com seus seguidores e seguidoras. “Pois quem quiser me seguir toma sua cruz e siga-me” (Mt 24,28). Sonhar mais um sonho impossível Lutar quando é fácil ceder Vencer o inimigo invencível (...) Quantas guerras terei de vencer por um pouco de paz! E amanhã, se esse chão eu beijei For meu leito e perdão, Vou saber que valeu delirar E morrer de paixão... Gritar o Evangelho com a vida! (Pedro Casaldáliga)

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