terça-feira, 20 de julho de 2010
PADRE JULIO. PREGOS DE UM PROFETA:MATÉRIA QUE FIZ NA ÉPOCA QUE PADRE JÚLIO FOI CALUNIADO E A FOLHA DE SÃO PAULO NÃO PUBLICOU
Acredito que neste momento qualquer manifestação pode parecer antecipada ante os fatos que vem acontecendo com padre Julio Lancelloti, mas mais ainda, que não deva haver silêncio por parte daqueles que conhecem minimamente seu trabalho.
Padre Julio pode ser caracterizado a trabalhos e personagens na história da Igreja, que de certa forma marcaram a vida desta e deixam até os dias atuais sinais visíveis de inspiração para ação concreta, principalmente em favor daqueles que foram colocados à margem da sociedade de ontem e de hoje. Podemos lembrar o exemplo de Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Leonardo Murialdo, Dom Bosco, Teresa de Calcutá, entre tantos outros, que não por menos sentiram o apelo do Evangelho mais forte: “toda vez que o fizerdes a um de meus irmãos é a mim que o fazeis” (Mt 25,40). Certa vez ouvindo uma mensagem de D. Luciano Mendes de Almeida, amigo de padre Julio, que dizia: “faço questão de atender aos andarilhos e mendigos em minha própria residência, vai que um desses é o próprio Jesus, jamais recusaria hospedá-lo”. Padre Julio, vigário geral do povo de rua, titulo concedido por D. Paulo Evaristo Arns, com sua simplicidade e coragem de atuar em realidades complicadas, onde muitos de nós desconhecemos e às vezes intocáveis pela ação do poder público de nossa sociedade, age sempre com gratuidade e amor. Toda vez na história que alguém mudou paradigmas, mexeu com estruturas, pagou o preço da incompreensão social, o próprio Jesus de Nazaré, ao qual muitos de nós dizemos acreditar, morreu vítima da intolerância e da incompreensão de grupos de sua época.
Não sou um profundo conhecedor do trabalho de padre Julio, acredito que o suficiente para perceber que seu reconhecimento internacional, não é meramente um reconhecimento político, mas também não o deixa de ser, pois como já o afirmei, Lancelloti com seu trabalho realiza o que muitas vezes deveria também ser papel do poder público, não que não o possa fazer, acredito que o deve, pois como padre e como cristão cumpre o mandato do Senhor: “libertar os cativos, anunciar a boa nova aos pequenos e excluídos” (Lc 4,18), mas a coisa é muito mais profética do que se pensa, lembro-me dos pregos colocados nas marquises da Sé em São Paulo, na ocasião padre Julio e D. Luciano gritaram em defesa daqueles que só contavam com este espaço para se abrigar, José Serra prefeito de São Paulo na ocasião, mentor de tal projeto juntamente com a subprefeitura Sé, não ficaram surdos a esta profética defesa, acredito que algumas cicatrizes ainda marcam, não sei se pelos pregos ou pela profecia. Também profetas foram perseguidos na história, de João Batista cortaram a cabeça.
A mídia mostra nossos padres de duas maneiras: cantando em shows, transmitidos ao vivo ou em situações muito desagradáveis de acusação a um série de fatos, os shows minimizam o verdadeiro itinerário de acusação, mas não abafam o rosto triste de um padre que doou toda sua vida em nome de um projeto, ou muito mais do que isso, que abre mão de sua própria vida, a coloca em situação de risco, através de ameaças, calúnias, difamações principalmente daqueles que ainda não o entenderam em seu trabalho. Para mim pessoalmente padre Julio é inocente de tudo isso que lhe acusam, distorções neste caso haverão, pois ele balançou a árvore do sistema que cada vez mais exclui e aumenta a distância entre pobres e ricos, e a mídia não está nas mãos dos pobres. Ou está? Precisamos neste momento perceber, com discernimento, que pode haver duas situações muito claras, perseguição, política ou de qualquer outro calibre, ou retaliação a algumas atitudes corajosas. De qualquer forma, se padre Julio tivesse condições de ler esta pequena manifestação, gostaria que soubesse que “bem aventurados são os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5,10), tenho certeza que o nosso Deus que libertou seu povo do Faraó e enviou seu Filho para nos libertar, irá mostrar mais uma vez que está do lado daquele que está ao seu lado, neste caso, padre Julio Lancelloti.
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